sábado, 31 de julho de 2010

Não entendo.

Não entendo.
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Clarice Lispector.

Ramón Gómez de la Serna

Sobre as pesquisas científicas, ratos brancos murmuram nos laboratórios: "Eles não se atreveriam a fazer isso com os ursos polares".

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Crime e Castigo.

“Por que, diabo, me preocupo eu desta maneira e sofro todas estas inquietações por
causa de uma bagatela?”, pensou, sorrindo estranhamente. “Hum! Sim, é isso, está tudo ao alcance do homem e tudo lhe vem parar às mãos, simplesmente, o medo… Isto é um axioma… É curioso: de que será que as pessoas têm mais medo? O que mais temem é o
primeiro caso, a primeira palavra… Mas parece-me que já estou falando demais. Afinal, não faço mais nada senão falar. Embora também se pudesse dizer que, se falo, é porque não faço nada. A verdade é que durante este último mês deu-me a mania de falar, enquanto me deixo ficar estendido ruminando no meu canto… sobre ninharias. Bem, e afinal, aonde vou eu? Serei capaz disso? Será isso uma coisa séria? Não, de maneira alguma. Divirto-me mas é à custa da minha imaginação, é uma brincadeira! É isso mesmo, uma brincadeira!”

Fiódor Mikhailovich Dostoiévski

domingo, 25 de julho de 2010

Não vou me adaptar.

Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar.

Eu não tenho mais a cara que eu tinha
No espelho essa cara já não é minha
É que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Me adaptar!
(Nando Reis)