sábado, 30 de agosto de 2008

Histórias da dança de salão.

Músicas para dançar e letras que traduzem o muito da dança de salão.

Agora, justamente agora. Agora que eu penso em ir embora você me sorri.Passou a noite inteira com seu amor do lado fingindo um bocado.Mas, hoje em dia os amores são assim. Ele foi embora nem faz uma hora pensando, quem sabe nos beijos que você lhe deu. Tolo, pensou que beijar sua boca foi consolo. Despertou o instinto da fêmea e agora quer se deixar abater, se sentir caçada, dominada até desfalecer. Agora entendo o sorriso,ele é que não entendeu. Se não fez amor com você faço eu.

Sentindo o frio em minha alma, te convidei prá dançar. A tua voz me acalmava, são dois prá lá dois prá cá...Meu coração traiçoeiro batia mais que o bongô, tremia mais que as maracas descompassado de amor...Minha cabeça rodando, rodava mais que os casais. O teu perfume gardênia e não me perguntes mais...A tua mão no pescoço, as tuas costas macias, por quanto tempo rondaram as minhas noites vazias...No dedo um falso brilhante, brincos iguais ao colar e a ponta de um torturante Band-aid no calcanhar...Eu hoje, me embriagando de wisky com guaraná. Ouvi tua voz murmurando são dois prá lá ,dois prá cá...

Você só dança com ele e diz que é sem compromisso. É bom acabar com isso, não sou nenhum pai-joão. Quem trouxe você fui eu não faça papel de louca prá não haver bate-boca dentro do salão. Quando toca um samba e eu lhe tiro pra dançar você me diz: não, eu agora tenho par. E sai dançando com ele, alegre e feliz. Quando pára o samba, bate palma e pede bis.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Prece rúnica.

A verdade é que a vida é difícil e perigosa;
que quem busca a própria felicidade não a encontra;
que quem é fraco deve sofrer;
que quem exige amor será decepcionado;
que quem é faminto não será alimentado;
que quem busca a paz encontrará a luta;
que a verdade é apenas para os corajosos;
que a alegria é apenas para aquele que não receia estar sozinho;
que a vida é apenas para aquele que não tem medo de morrer.
(Joyce Cary)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Muitos amigos?

A febre dos sites de relacionamento revela que fulano e cicrano têm 769 amigos. Ufa! Imagina ter que botar em dia as últimas notícias. Pessoas com as quais você nem troca scrap estão lá, na categoria de seus amigos. Então aparece aquela pessoa que pede "posso te adicionar?" e você aceita, lógico. Tenho amigos que dizem: adiciono só mulheres. Outros, de tempos em tempos fazem limpezas étnicas e tiram do mapa aqueles que estão lá por estar.
Pode parecer que sou contra isso. Não, tenho Orkut. Mas não deixa de ser engraçado como a gente se manifesta em todos os campos da vida. Todos com muitos amigos...
E para contribuir com aqueles que gostam do assunto, aí vão outros sites que são famosos mundo afora, mais usados até do que o "brasileiríssimo" Orkut:
http://www.bebo.com/
http://www.myspace.com/
http://pt-br.facebook.com/
http://www.meetup.com/

Na manhã.

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho (...)
Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho (...)

sábado, 9 de agosto de 2008

Aos sem pais.

Eu conheço pessoas com e sem pais.
Uns foram abandonados por eles; outros, tiveram a experiência de perdê-los na vida com a chegada da morte, assim como eu que me despedi definitivamente do meu quando eu tinha 16 anos.
Mas do grupo daqueles que têm pais, conheço um número, não muito pequeno, que na verdade não os têm. São aqueles filhos da geração de pais que achavam que eram paternos à medida que financiavam a alimentação da casa e os estudos dos filhos. Nada mal, principalmente nos dias de hoje, ter um pai que arque com esses gastos de forma competente. Mas não participavam tão intensamente da vida dos filhos, não eram carinhosos, não se importavam com o cotidiano dos seus rebentos. Deste grupo, também conheço muitas pessoas.
Como homem, fico pensando o porquê do fracasso dos pais na educação emocional dos filhos. O que nos ensinaram a ser? Por que ao homem era ensinado a ser desligado destas questões? Por que nos foi reservado ser o vilão da história (o fazedor de guerras, o traidor das donzelas apaixonadas, do competidor implacável por poder...). Por que existem movimentos feministas de proteção e estudo dos direitos das mulheres (forma positiva) e quando se fala de machismo o termo já é, em si, negativo? Será que deve-se isso tudo à testosterona?
Quando vejo um pai andando de bicicleta com o seu filho na praça, jogando futebol, eles rindo e se abraçando, me dá uma saudade do que não tive. Olho com uma curiosidade de pesquisador que tenta descobrir esse comportamento tão incomum.
Para este grupo de sortudos, desejo um ótimo dia dos pais.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Egoístas e generosos.

Uma trama diabólica. É assim que Flávio Gikovate, define a divisão do Mundo entre egoístas e generosos no livro O mal, o bem e mais além. Sua experiência em consultório o fez perceber que quase todos os casais – e também as relações sociais e entre amigos – fundamentam sua relação nas trocas estabelecidas entre uma personalidade mais exigente, barulhenta e emocionalmente sensível e outra mais madura, compreensiva ao extremo. Divisão um tanto maniqueísta? Gikovate diz que não. “A culpa não é minha se existem apenas dois tipos de pessoas”, afirma. A novidade presente no livro é que, segundo ele, os generosos não formam o time do bem, como julga o senso comum, nem os egoístas são os vilões. Sua hipótese é de que as diferentes reações a sentimentos humanos, como vaidade, inveja, culpa e humilhação, acabam por determinar o perfil de cada indivíduo. A miséria dos egoístas está no fato de que eles dependem dos generosos, assim como os generosos precisam dos egoístas.

Flávio Gikovate – O tema da moral está presente há algum tempo em meu trabalho, mas antes tratava o egoísmo como algo pior do que a generosidade. Em 1976, escrevi que havia dois tipos de amor, por diferença e por semelhança. A grande maioria dos casais se estabelecem entre pessoas antagônicas. Hoje, a moda é falar em alma gêmea, mas, na prática, as pessoas continuam se encantando por oposição e dizendo que os opostos se atraem. A atração por opostos tem muitas causas, desde a dificuldade de auto-estima (não gostar do seu jeito de ser e se encantar com o outro) até o medo da paixão, muito intensa, estabelecida entre semelhantes. A paixão, diferentemente da maioria das relações, se dá entre pessoas parecidas.

Paixão é amor em grande intensidade mais medo em grande intensidade. O coração não bate por amor, mas por medo. E muita gente acha que, quando a paixão vai passando, é como se o amor diminuísse também. Apenas o medo diminui. Mas muitas paixões terminam quando os amantes não suportam o que chamo de medo da felicidade. Ele está na raiz do pensamento supersticioso. O olho gordo tem cinco mil anos. O medo da felicidade surge quando estamos no meio de muita coisa boa e temos a impressão de que um raio vai cair na nossa cabeça. Muitos preferem se unir a uma pessoa diferente de si para garantir um pouco de irritação. Ligar-se a uma pessoa antagônica encanta e irrita ao mesmo tempo. Na paixão, as afinidades são enormes, os dois se encaixam maravilhosamente bem e o pânico se instala. As separações ocorrem por isso, e não por causa dos obstáculos.

Entre dois egoístas, a relação é impossível. Acontecem muitas brigas. Não dá problema psiquiátrico, mas ortopédico (risos). Quando o egoísta é casado com um generoso, pelo menos este coloca panos quentes. Quase sempre, a paixão ocorre entre dois generosos que acabam deixando de ser generosos. Seriam casais perfeitos se o generoso, tão atrapalhado psicologicamente quanto o egoísta, aprendesse a receber.

O egoísta é estourado, ciumento, gosta de fazer autopromoção, é extrovertido porque não consegue ficar sozinho e intolerante à frustração. Faz o diabo para não se frustrar, inclusive passar por cima dos direitos dos outros. A partir dos seis anos, a criança é capaz de abstrair e se colocar no lugar do outro. Se uma criança vê um menino em uma cadeira de rodas e se imagina em seu lugar, sofrerá com isso. E uma criança que não suporta essa dor interromperá esse processo. Fica com uma visão unilateral do mundo e perpetua um padrão egocêntrico. São pessoas invejosas, embora se mostrem sempre muito bem. Isso confunde até hoje os psicanalistas, que fundaram o conceito de narcisismo. É um conceito usado para descrever pessoas que têm a postura do “eu sou bacana”, como se elas tivessem realmente esse juízo de si, o que não é verdade. Elas sabem que são um blefe. Fingem superioridade por se saberem invejosas e ciumentas. Elas precisam receber mais do que recebem. Matematicamente, são pessoas falidas. Podem botar a banca que for, mas são fracas.

O generoso é o inverso do egoísta. Não reage nem quando deveria, não suporta provocar dor na outra pessoa, aceita dócil um monte de contrariedade. Fala um monte de sim quando deveria falar não. Quando você tem oito anos e é um menino bonzinho e seu irmão começa a chorar porque quer uma bola que é sua, você não agüenta o remorso que imagina que vai sentir e dá a bola para ele. Mas não era isso que você queria fazer. Aí a mãe vem e diz que você é legal. O elogio estimula a vaidade, que se acopla à generosidade. É mais uma vez um truque para se sentir superior à custa de uma fraqueza. O generoso também inveja o egoísta, que é capaz de dizer não e goza os prazeres da vida, enquanto o generoso é todo cheio de pudores e constrangimentos. Acabam ficando duas porcarias.

Para ter um filho bonzinho, tem que ter um filho pestinha. A mãe poderia chegar para o filho que quer a bola e dizer “não enche o saco, a bola é do seu irmão”. Mas ao reforçar a generosidade de um dos filhos, ela reforça também o egoísmo do outro. Não existe generosidade sem egoísmo. De vez em quando eu assisto a esses programas evangélicos na televisão e penso no que seria deles sem o Satanás. Não haveria programa. Essa dualidade é patética, ridícula. Para poder ser o bonzinho, o bacana, ir para o céu e ser uma teta na qual todos mamam, precisa haver os parasitas que vão lá mamar. Há uma aliança no domínio das elites entre o generoso e o egoísta. Comparo com o sacerdote e o guerreiro. O sacerdote seria o bonzinho e o guerreiro, o mau. Os dois sempre se freqüentaram e compartilharam poder.

Individualismo significa auto-suficiência. Egoísta e generoso não são auto-suficientes. O justo sim. Vai estabelecer relacionamentos nos quais não haverá necessidade de jogos de poder. Ele não dá mais do que recebe nem recebe mais do que dá. O interessante é que a sociedade moderna tende na direção do indivíduo justo.

Não dá para privilegiar coisas que não dão para todo mundo. Até os intelectuais cometem esse erro. Elementos de felicidade aristocrática, como a beleza, a riqueza e a inteligência, condenam à infelicidade o feio, o pobre, o que não teve acesso à educação. Sou favorável às felicidades democráticas, aquelas que dão para todo mundo, como o amor, por exemplo. O justo se satisfaz com isso. Ele não condena ninguém à infelicidade.

Todos têm que evoluir. As relações de qualidade serão as únicas estáveis, tanto as de amizade quanto as conjugais. E, quando a educação não parte de dois modelos concorrentes, os filhos saem todos legais. Além disso, é uma estupidez achar que casamentos sem brigas são tediosos. Só é chata a vida entre duas pessoas se elas forem chatas. O tédio deriva da falta de reciclagem por parte dos cônjuges. Mas não quer dizer que as disputas favoreçam a relação.
O sexo está acoplado à agressividade em nossa cultura – ele faz parte do domínio do demônio – e se complica um pouco nas relações de boa qualidade. Na nossa cultura, há inveja sempre que existe diferença. Freud falou na inveja do pênis pelas meninas. Na adolescência, os meninos passam a invejar o poder atraente das garotas. Aí, as meninas se tornam objetos de desejo e os homens ficam babando. É a origem do machismo e das piadas em relação às mulheres. O machão tem raiva e desejo pela mulher. Isso não significa que não pode haver sexo sem ódio.

Mas o generoso é esperto. Ele faz alianças de alta conveniência. Associa-se aos egoístas, que fazem as maracutaias, e ele se beneficia. O sócio é um safado que faz negócios ilícitos, mas ele aproveita o dinheiro, sendo sempre o bonzinho. O generoso é um oportunista disfarçado. Dá uma casa bonita para a família mas mora nela. Diz que não se incomoda em morar em um “moquifo”, mas tem dificuldade de se separar e abrir mão da casa. É tudo espetáculo. (Adaptado daRevista Isto É).