sábado, 31 de maio de 2008

Freegans

Imagine um grupo de pessoas que sejam vegetarianas e que não adquiram nenhum produto que venha dos animais. Agora adicione uma ética e uma atitude política que seja contra o capitalismo e suas formas de consumismo. Ainda imagine que essas pessoas, como meio de vida e por que não, de protesto, esperem os supermercados, restaurantes e lojas se fecharem para recolherem do lixo a comida que não pode ser vendida por ter passado o prazo de validade. São jovens em sua maioria e querem fazer o mundo ver que o nosso sistema é excessivo em produzir lixo luxuoso, com roupas em bom estado e comida consumível. Muitos nem trabalham, porque trabalhar por dinheiro é desumano. Outros moram em casas abandonadas.
Essas pessoas existem e se denominam Freegans (reportagem da FOX News no You Tube: http://br.youtube.com/watch?v=MeVrXLFSOBQ). Tudo bem em relação ao idealismo de jovens que ainda acham que podem mudar o mundo, num tempo que nem a China ou Cuba conseguem se manter apáticas aos chamamentos do desejo do dinheirinho e de consumir. Mas eu fiquei pensando se eles pensam em ter filhos, depois que um rapaz encontrar aquela garota “lixeira” que ele sempre desejou. Seria condizente com as suas pregações ou seria mais ético adotar crianças abandonadas? Elas também não seriam resultado do modo de vida de nossa sociedade? Eles abandonariam o desejo de serem pais em nome da ideologia?
É mesmo difícil ser coerente nesta vida!

U-turn

http://www.dailymotion.com/video/xdm65_uturn-aaron

...for every step in any walk
any town of any thought I'll be your guide
for every street of any scene any place you've never been I'll be your guide.

U-turn (Aaron)

domingo, 25 de maio de 2008

Desejo e dança de salão.

Eu estava lendo uns artigos do site “Dance a Dois” quando vi um deles escrito por Ângela Vega sobre o filme “Chega de Saudade” de Laís Bodanzky, a mesma diretora do filme “Bicho de 7 Cabeças”(http://www.danceadois.com.br/portal/noticias/angela-vega-viu-chega-de-saudade.html). Eu tenho uma visão do filme um pouco diferente da que ela teve.
(Se você que estiver lendo este texto não o assistiu ainda, pare por aí. Posso estragar as surpresas do filme).
Em se tratando de uma diretora, Laís imprimiu uma ótica particularmente feminina. O filme começa, convidando a nós, espectadores, a entrarmos num baile para a terceira idade em São Paulo. A partir de então, é como se nós fossemos a personagem Bel (Maria Flor) que vai ao baile pela primeira vez para ajudar o namorado que é técnico de som. Ela é advertida, logo na entrada, de que com calça jeans, ela não pode entrar. Toda mulher tem que estar de saia. A dança de salão, como evento social, tem um código próprio a ser respeitado.
A partir daí, perambulamos pelo baile juntamente com a lente da câmera e encontramos pessoas e suas histórias de vida. São homens e mulheres que se (des)encontram no meio do salão, conduzidos pelo DESEJO. Este poderoso ingrediente de qualquer boa pessoa que ouse respirar um pouco de oxigênio neste mundo.
Como diz Caetano “a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo”. É assim que a trama vai se desenrolando. Por trás do desejo de conversar com a jovenzinha do baile, há o desejo da juventude. Mais do que a própria relação, há o desejo de sentir o momento do encontro, “do jardim, do cheiro de jasmim”. A jovem, para o maduro galanteador, é um pretexto para que ele recupere a juventude perdida de ontem, para que ele se sinta vivo outra vez. Por outro lado, esta mesma jovem é atravessada pelo baile e por emoções que ele provoca. Sua vida é revirada e ela tem a impressão de que seu romance não é um bolero, nem uma valsa. É uma música sem ritmo, nem cadência, dançada com um namorado garotão que ainda não aprendeu a como tratar uma mulher. Na dança, este cuidado e atenção são peças fundamentais. Ela percebe isso.
Mesmo se passando num baile para a terceira idade, os elementos normalmente encontrados na dança de salão estão presentes: a paquera, o ciúme, a inveja, a mentira do compromisso (se tem ou não namorado/a), o abandono (o chá de cadeira), a dificuldade de se entregar ao parceiro e a dificuldade de se amar uma pessoa que também sente prazer em dançar com outras pessoas.
A dança pode e muda a vida de muitas pessoas. Já percebeu que não é incomum ver pessoas que depois que aprendem a dançar arrumam “outras” coisas para fazer? Elas abandonam a escola de dança ou os bailes da vida. Outras entram na dança para conseguir coisas das quais não tinha acesso antes das aulas. Não são raras as vezes em que entrar para uma dança de salão seja uma prescrição médica ou psicológica contra depressão. Quantas pessoas têm pânico de dançar? Quantas se dizem “duras” e nem querem tentar? Buscam-se a melhor auto-estima, novos amores, reconhecimento, vencer a timidez, se expressar, e por aí vai.
O filme fala dos que pagam os “personal dancers”, do chá de cadeira, do “gambazão” que passa o tempo todo dançando sozinho, dos romances, dos encontros sexuais no salão com direito até a uma cena de masturbação feminina no banheiro. E é neste ponto que a autora do artigo mais sentiu desconforto. Quem dirá nunca ter sido abduzido do meio do salão para um mundo paralelo, onde só se encontrassem você e sua dama ou cavalheiro? E qual o problema disso acontecer na terceira idade também? Quem poderá dizer que desejo está por trás de cada casal disfarçado de “magia da dança”?
A cena de tango é quase toda filmada só com os pés dos dançarinos. Eles se comunicam com os passos. As rugas das atrizes não estão escondidas por maquiagem e nos lembram que o tempo é inexorável. Parceiros de longa data confessam o amor que esteve escondido por anos de ensaios. Um ex-internado por infarto vê no baile a sua salvação por poder reencontrar os amigos.
Enfim, são vidas tocadas pela dança.
E ao final do filme, que é o final do baile, quando as luzes se apagam, nós voltamos para casa cantarolando uma das músicas da trilha sonora. Eu vi senhoras saindo da sala de cinema dançando. Talvez elas estivessem pensando em sair correndo para um baile.

sábado, 24 de maio de 2008


"O tempo no retrato é um passado irrecuperável."
Rubem Alves

Escrever

“Escrever. Não posso.
Ninguém pode.
É preciso dizer: não se pode.
E se escreve.”
(Marguerite Duras)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Este é para você.

Milton cantou: “Certas canções que ouço calam tão dentro de mim que perguntar carece, como não fui eu que fiz?”. Da mesma maneira eu me pergunto sobre os textos que leio.
A identificação, às vezes, é tão exata que duvido se o escritor(a) me conhece. Ou então, tenho inveja de não ter sido eu o autor da obra prima.
Porém, muitas são também as vezes em que as pessoas têm a opinião muito diferente da minha acerca de um determinado texto. Como assim, se estamos lendo a mesma página? As palavras, as frases, a pontuação está tudo lá revelando a mensagem do autor. Ledo engano. O texto, uma vez posto no papel, não mais nos pertence. Talvez, ousaria dizer que até quando ele está num estágio de borbulha na cabeça da gente (e quem escreve sabe o que eu digo), antes de colocá-lo para fora, ou ficarmos “livre”dele, ele já não mais nos pertença. O texto tem vida própria, é voluntarioso e nos castiga se não obedecemos às suas ordens.
O leitor, este voyeur da mente humana (perdendo lugar apenas para os psicólogos), lê e decodifica a mensagem. Lê à sua maneira, tira as suas próprias conclusões. Pronto! Um novo texto está escrito.
E o que também me intriga é saber em quem estava o escritor pensando ao escrever o texto? A quem ele se dirige? Quem espera encontrar na outra ponta da linha? Que olhos o interpretarão e dirão com aquela certeza absoluta de que se trata de um “bom” ou “mau” texto? Quem serão esses juízes a declarar a sentença de vida ou morte do que eu escrevo? A inspiração vem de onde?Em quem se pensa quando se escreve?
E como investigadores policiais, tento achar pistas de que ali, naquele ponto, o texto daquele autor fala de mim. Foi uma indireta. Fui desvendado.
E quando se conhece o autor/escritor, essas dúvidas se tornam ainda mais cruéis.
Afinal, a quem se dirige o texto?

Sejam bem vindos.

É interessante como, hoje em dia, a tecnologia substituiu muitas coisas que antes eram muito comuns.
Quem espera para ler as notícias impressas no jornal do dia seguinte? Quem fica ansioso com a chegada do carteiro com “aquela” carta que disseram que mandariam? Quem deixa traços dos erros cometidos ao se escrever um texto?
Hoje não se rabisca nada, se deleta. A página volta a ficar em branco, limpa. Não há risco.
Mas eu me arrisco a escrever besteiras, coisas que passam na cabeça de um cara cabreiro com algumas coisas da vida. Quem quer que leia meus escritos, que seja por sua conta e risco.
Seja bem vindo.