sexta-feira, 23 de maio de 2008

Este é para você.

Milton cantou: “Certas canções que ouço calam tão dentro de mim que perguntar carece, como não fui eu que fiz?”. Da mesma maneira eu me pergunto sobre os textos que leio.
A identificação, às vezes, é tão exata que duvido se o escritor(a) me conhece. Ou então, tenho inveja de não ter sido eu o autor da obra prima.
Porém, muitas são também as vezes em que as pessoas têm a opinião muito diferente da minha acerca de um determinado texto. Como assim, se estamos lendo a mesma página? As palavras, as frases, a pontuação está tudo lá revelando a mensagem do autor. Ledo engano. O texto, uma vez posto no papel, não mais nos pertence. Talvez, ousaria dizer que até quando ele está num estágio de borbulha na cabeça da gente (e quem escreve sabe o que eu digo), antes de colocá-lo para fora, ou ficarmos “livre”dele, ele já não mais nos pertença. O texto tem vida própria, é voluntarioso e nos castiga se não obedecemos às suas ordens.
O leitor, este voyeur da mente humana (perdendo lugar apenas para os psicólogos), lê e decodifica a mensagem. Lê à sua maneira, tira as suas próprias conclusões. Pronto! Um novo texto está escrito.
E o que também me intriga é saber em quem estava o escritor pensando ao escrever o texto? A quem ele se dirige? Quem espera encontrar na outra ponta da linha? Que olhos o interpretarão e dirão com aquela certeza absoluta de que se trata de um “bom” ou “mau” texto? Quem serão esses juízes a declarar a sentença de vida ou morte do que eu escrevo? A inspiração vem de onde?Em quem se pensa quando se escreve?
E como investigadores policiais, tento achar pistas de que ali, naquele ponto, o texto daquele autor fala de mim. Foi uma indireta. Fui desvendado.
E quando se conhece o autor/escritor, essas dúvidas se tornam ainda mais cruéis.
Afinal, a quem se dirige o texto?

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