quinta-feira, 31 de julho de 2008

Tempo...tempo...

Tempo hoje é uma commodity.Tem um valor que se negocia: se compra e se vende.É sinal de riqueza ou desperdício, necessário e valorizado de acordo com as leis de oferta e procura. Transformou-se em mercadoria.
Eu não sei lidar com o tempo.
Quando estou trabalhando, eu consumo o meu de tal forma que sobra pouco espaço para eu deixar de fazer coisas extras ao trabalho. Os dias vão se acumulando como as roupas e objetos em cima da minha mesa. Se juntam e esperam, pacientemente, a sua remoção, que se dará quase sempre aos domingos.
Quando estou de férias, tenho tantas vontades, tantas tarefas de férias acumuladas por fazer que ao final do período de ócio há sempre a frustração de que não deu tempo.
Sou tão obcecado pelo tempo que tiro fotos das coisas e das pessoas. Elas passam a ser testemunhas do meu tempo. É como um deus que aprisiona o instante que nunca mais vai voltar.
Sou o senhor do tempo.
Mas quando me surpreendo ao ver fotos amareladas e se apagando, me dou conta da bobagem que é me achar senhor de alguma coisa.
Ainda levo sustos ao me ver em fotos. Eu observo o tempo passando fora de mim e eu sendo levado por ele, sem nenhuma pena ou consideração por isso...

"Os anos se passaram enquanto eu dormia ... No espelho essa cara já não é minha
Mas é que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho..." (Arnaldo Antunes)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

“You can’t always get what you want, but if you try sometimes, you just might find you get what you need!”
Mick Jagger.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Aniversários particulares.

Há 4 anos, eu me mudava para onde vivo hoje. Eu precisei de uns 2 anos para eu começar a sentir que este lugar era meu. Rubem Alves diz que o nosso lugar precisa estar como uma praça de andorinhas, cheia do cheiro delas, para que elas voltem no ano seguinte.
Eu perdi o meu cheiro de infância e de anos e anos vividos no Prado. De residencial, o lugar passou a ser mais comercial. Os vizinhos foram embora, morreram, tudo mudou. Antigamente as casas eram enormes com quartos imensos onde os irmãos dormiam juntos. Hoje os apartamentos são minúsculos e os irmãos dormem cada um em seu quarto. Meus sobrinhos mais novos não sabem o que é um barracão no fundo da casa, escadas com corrimão no jardim, quintal com mangueira, muro para conversar com vizinho e terraço para tomar sol. Casas foram ao chão e prédios, em nome da modernidade, foram erguidos para abrigar mais pessoas, mais carros, mais confusão. Os antigos moradores morreram e os filhos, cada um com os seus problemas e dívidas, rapidamente venderamm as casas dos pais. Anos de história vêm abaixo. Acho que acontece o que deverá acontecer também com minha família.
Hoje moro num bairro residencial. Mas não tenho história com ele. Vou para casa para dormir. Não sei os nomes das ruas. Não conheço meus vizinhos. Não sei onde posso achar o produto mais barato e nem desviar do trânsito pelas ruas adjacentes na hora do rush. Não sei cortar caminhos.
Dentro de casa também tem pouca história devido ao pouco tempo que passo dentro dela. Mas o que existe nela já tem mais o meu cheiro. Gosto de viver aqui.
Poucas pessoas freqüentam a minha casa além de mim. As que vêm aqui são porque são importantes. Sou cachorro no horóscopo chinês e talvez isto explique a minha relação com o meu lugar: pequeno ou grande, mas território meu. É aqui que eu me guardo.


Também hoje faz 2 anos que, definitivamente, freqüento uma escola de dança de salão. A dança tem se tornado importante para mim. Nestas férias vou ao Rio fazer um curso com pessoas de vários lugares do país. Eu não tinha isso em meus planos. É mais uma que a vida apronta para mim. Quando voltar, devo escrever sobre a experiência. Vamos ver o que estará reservado a mim.

domingo, 6 de julho de 2008

En tus brazos

http://www.youtube.com/watch?v=3PU5Tsx36E0
"O que acontece quando uma força incontrolável encontra um objeto irremovível"?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Procurando o Outro.

Um recém emancipado garoto de 18 anos saiu para caçar no interior da selva amazônica como era de costume. Afinal de contas, seu pai já tinha lhe passado os segredos e os ofícios de caçador .Várias vezes que faltava comida em sua casa, lá ia ele até à mata conseguir um macaco, uma paca ou um tatu.
Mas naquele dia ele não voltou.
O pai saiu à sua procura. Os bombeiros, que normalmente em casos como esse procuram até o terceiro dia de desaparecimento, foram compelidos pelo pai a buscar por mais tempo. O pai dizia que não descansaria enquanto não o encontrassem: vivo ou morto.
Sábado passado o pai o encontrou. Depois de 49 dis de busca, o rapaz foi encontrado a 69 km de sua casa, 20 kg mais magro dos seus já parcos 50 kg: ferido, de cueca e camiseta, picado por todos os tipos de insetos e desidratado.
O pai o pegou no colo. Alguns insetos saíram de sua boca. Ele tentou balbuciar alguma palavra ao ver que o pai estava lá. Cerrou os dentes e se foi. Morreu nos braços do pai.
Apesar do óbvio conteúdo trágico e infeliz desta história, quem tem ouvidos para enxergar, que vejam; olhos para escutar, que ouçam: que bela história de amor paterno-filial. A não desistência da busca que se mescla à própria sobrevivência. O alívio ao abrir os olhos e reconhecer a face buscada e relaxar. Se deixar ir.
A busca do pai, do Outro. Não é preciso se perder nas florestas da vida para podermos imaginar o momento único de redenção de todos os esforços do rapaz e de alegria ao encontrar e, mais ainda, em saber que existia alguém à busca dele. Seja este Outro quem quer que seja. Ele soube que não tinham desistido dele.
Como deve ser bonito este encontro.