sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Indignação.

ARTIGO - NELSON MOTTA
Publicado:
“Parei minha moto no shopping, roubaram a tampa da válvula do pneu. Tinha uma ótima tesoura Tramontina para tosar cachorros, mas alguém que esteve na minha casa a trocou por uma de pior qualidade. O médico me mandou tirar radiografia desnecessária só para gastar dinheiro do plano de saúde. Minha revista semanal sumiu na portaria do prédio.”
A prosaica semana de um leitor carioca, tão banal e parecida com a de milhões de brasileiros de todas as classes sociais que são vítimas constantes de pequenos (e grandes) roubos e malandragens públicos e privados, mostra como isto está arraigado na nossa cultura, atravancando o crescimento do nosso IDH, por mais que se invista em educação, tecnologia e infraestrutura.
Será que estamos condenados para sempre a essa cultura nefasta? Ou já foi pior e aos poucos está mudando por força da lei, da polícia e da Justiça? E dos bons exemplos que se espalham na mídia e nas redes sociais, embora os piores exemplos venham justamente dos que têm por obrigação a conduta exemplar: os políticos que fazem do Congresso uma das instituições mais desmoralizadas diante da população.
Tudo bem, o Brasil está rico, poderoso, solidário, mas 43% dos alfabetizados não sabem ler, mais da metade das cidades não tem esgoto tratado, 1/3 das Câmaras Municipais — e do Congresso Nacional — está nas mãos de processados ou condenados pela Justiça. Não é uma questão de ideologia, é de uma cultura, que não muda com leis, programas ou verbas, mas com o tempo e os exemplos que vêm de cima e de fora, em casa e no trabalho. Moralismo otário? Ou exigência do desenvolvimento social?
Nos anos 60, acreditava-se que a revolução castrista não só transformaria a política, a economia e a cultura em Cuba, mas criaria o “novo homem cubano”, limpo, livre e solidário, mas hoje os furtos, transgressões e malandragens se tornaram um modo de vida na ilha, pela nobre causa de comer todo dia.
Não bastam a economia, a educação e a tecnologia, é o exercício dessas leis não escritas — porque todos conhecem — que vai tornar melhor, ou pior, viver em um país rico e sem miséria. Na moral.
Nelson Motta é jornalista

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Conversa surreal.

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Local: restaurante self-service, clientes dividindo mesa em horário de almoço.
Personagens: uma mulher e sua filha. A mãe do Bernardo. Eu.

-Olha, vejo que sua filha estuda no Pitágoras. Qual o seu ano?
-Eu estou no primeiro ano. Mas era para eu estar no segundo. Tomei bomba por quatro pontos.         
-Na verdade foram por dois. Você acredita que a escola pôs duas professoras estagiárias para corrigir a prova dela e elas fizeram tudo errado?
- Mentira! Que coisa, tadinha. Mas vocês reclamaram, não?
-Claro, mas você sabe as escolas de hoje…
- Ah! Se sei. Meu filho, Bernardo, estuda lá também, mas é de outro ano. Se começou para você, começou para ele também. Hoje ele vai chegar em casa só depois das 18 horas, então. E é como eu digo: hoje para tudo eles dão a desculpa que seu filho está com déficit de atenção. Para mim, o problema é de déficit de educação. Os professores hoje não ligam para os alunos, isso é coisa do passado. Eles só chegam na sala para trazer problemas pessoais. Gastam o tempo todo da aula contando suas próprias vidas, de BBB… o Bernardo é meu filho, mas é malandro, eu sei, mas ele tem direito, a vida é dele. Ele faz natação, está no time do colégio no basquete, no vôlei…mas a escola não ajuda ele. Você acredita que eles disseram que se ele tivesse cinco médias perdidas, ele teria que sair dos times? Pode isso? Pois ele tem sete e está lá. Ai, deles… Educação é coisa do passado. Aí você pode me perguntar o porquê de eu não tirar o Bernardo de lá, mas TODAS as escolas são iguais.
Aff!