domingo, 29 de junho de 2008

Para todos.

Tá cansado, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta...
Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora...
Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite...
Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance...
Se tá puto, quebre
Ta feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre...
Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure...
Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele...
Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
Não se submeta...
(Lenine)
"Eu só quero saber do que pode dar certo. Não tenho tempo a perder."
(Titãs)

domingo, 22 de junho de 2008

Fotógrafo

"Posar para retrato desnorteia.No fundo, considera os fotógrafos uns perversos, porque eles detêm e cultivam a prerrogativa de acentuar o lado monstruoso dos outros.
Quando um leigo vê um sorriso, angelicais, tímidos ou brincalhões, ocultam o diabólico. Escondem uma ambigüidade cruel, e os fotógrafos, somente os fotógrafos, sabem, como captá-la".
(Armando Antenore- Revista "Bravo")

São João


Em 1994 eu passei pela primeira e única vez até hoje em minha vida um dia de São João no Nordeste. Eu, brasileiro, não sabia o quanto esta data é importante para os lados de lá.

Na rua da Ilha de Itamaracá, as pessoas colocavam pequenas fogueiras nas calçadas e umas cadeiras na porta de casa para conversar e ver o movimento da rua.

Nas mesas, mugunzá(canjica para o sudeste), canjica(mingau de milho para nós), bolo de aipim(mandioca),milho assado... tudo de milho. A superstição de que quem acende a fogueira, mas não faz ela "vingar", é porque ano que vem esta pessoa não estará lá para tentar de novo(eufemismo para "bateu as botas").Portanto, capriche no fôlego e assopra!

O forró é ouvido na praça da cidade e todos dançam juntos, coladinhos, por horas. Muitos aproveitam o feriado de São João para rever a família.É uma festa mesmo e eu me senti num outro mundo porque não sabia que era tão importante e tradicional.

Desejo um pouco mais de festa em nossas vidas.E história. Se a gente não reinventar os nossos dias, constantemente, a coisa vai ficando feia!

E para comemorar, um pouco do genial Luiz Gonzaga. O vídeo no YOU TUBE é para se cantar uma das pérolas do rei do baião.


Olha pro céu, meu amor

Vê como ele está lindo

Olha praquele balão multicor

Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta

Que tu me deste o teu coração

O céu estava, assim em festa

Pois era noite de São João

Havia balões no ar
Xóte, baião no salão

E no terreiro

O teu olhar, que incendiou

Meu coração.


domingo, 15 de junho de 2008

Ensaio.


Não me interessa o espetáculo.
Nele já há a confirmação do que é possível.
A apresentação é a atração e beleza por si mesmas.
Naqueles poucos minutos, os corpos já ensaiados demonstram o resultado, o clímax de uma série de horas intermináveis de repetição, concentração e superação. Os corpos já se encontram alinhados, trabalhados, exatos.
O meu olhar se desvia para os bastidores onde o que se pretende ainda não existe concretamente. Há o espaço para o vir a ser. E o meu olhar de desloca para o olhar do aprendiz que observa, detalha, registra.
Me interessam o momento criativo, a música escolhida, o passo que traduz em movimentos a emoção que se sente.
O coreógrafo imagina, e solitário precisa do outro para se realizar. O outro é o veículo do sentimento do criador e nesta dependência equilibrada e harmônica (ah, sim porque o aprendiz está com sede do aprendizado), dá-se o início ao grande espetáculo: a dança.
Os sentimentos se materializam em passos e estes num vai-e-vem de ondas e giros e braços e olhares. As personagens vão se formando e aqueles seres que começaram já não são mais os mesmos.
Transformação pela dança.
É aqui onde meus olhos repousam.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Até tu Paris?

O meu envolvimento com a França começou quando resolvi, do nada, entrar na Aliança Francesa para conhecer o lugar. Saí de lá matriculado.
De lá para cá, foram anos de estudo, viagens, pessoas que me ensinaram a admirar a cultura, a educação, a tradição, a preocupação com o social, a história das revoluções, dos pensadores e dos filósofos.
Por causa disso, sempre que possível, eu assisto ao telejornal das 20:00 transmitido em Paris para eu ficar "por dentro" da notícia. E na edição de 10 de junho, tive a surpresa em ver que eles estão com sérios problemas de trânsito. Ao assistir às imagens, pensei que estivesse em BH e suas infindáveis motos, motociclistas atropelados em frente às câmeras, desrespeito com pedestres e uma bagunça geral no trânsito.
O resultado disso é que eu fiquei sem argumento. Antes, eu acreditava que a educação e a civilidade poderiam conter uma certa barbárie para a qual o mundo caminha. Hoje, minhas certezas me deixam com dúvidas e vejo um certo fracasso na minha frente.
Alguém, por acaso, sabe onde é a saída de emergência?

sábado, 7 de junho de 2008

Ciúme

O nordeste atrai muitos turistas. Muitos casais. Eles eram apenas mais um casal no meio daquela gente que subia e descia a escada que havia sido coberta por um manto em celebração da festa santa. A escada se deitava no morro, que separava a igreja e o manguezal. Ali era o Outeiro da Glória.
O casal, que estava em lua de mel, como tantos ali, se misturavam ao povo local. Em sua maioria, donas de casa com pele queimada de sol, panos coloridos na cabeça, rebolantes no seu vai-e-vem dos degraus e com filhos como pencas de bananas, dependurados pelos braços e pelas mãos. Os recém-casados param em frente a uma das muitas lojinhas que circulava a igreja. Vendia-se de tudo. A recém assim denominada esposa se encontra com os produtos artesanais de cores fortes exibidos na parede de uma loja, à beira da rua, caiada de branco e perfumada de sisal.
O vendedor era um típico nativo da região: cabelos crespos, mas longos, quase rastafári. Cor de madeira, braços bem torneados à mostra. Muito conversador, mas simpático. E sua amabilidade é tanta que ele se oferece por levar o casal para o rio que havia perto do manguezal, lá embaixo do morro. O casal prontamente aceita, mas o marido sabia que no final da escada, próximo ao mangue, havia o mar, não o rio.
Isto porque no dia anterior ele estivera ali, enquanto sua amada dormia e, por isso, desconhecia que aquele lugar era um déjà vu para seu marido. Enquanto ele pega as sacolas, o rapaz da loja conduz a esposa para baixo do morro: os dois iam sorridentes, conversando. Ele,todo prestativo, mostrando e explicando tudo do lugar. O marido, atrapalhado com as sacolas, é parado várias vezes pelos moradores da vila. Uns perguntavam se estavam gostando da estadia, outros, crianças, riam do seu empenho em carregar sozinho as várias sacolas e bolsas e ainda conseguir descer a escada coberta pelo manto santo. Foi quando então ele se deu conta de que no meio daquela pequena multidão, ele havia perdido o casal à vista.
Ele sentiu uma pontada no peito. Era o ciúme falando mais alto. Lá iam o vendedor sedutor e sua esposa, sozinhos, num lugar onde o nativo conhecia como a palma de sua mão. Mas por que sua esposa não o esperara? O que estariam fazendo agora? E a dor no peito se transformou numa resignação: o que tinha que acontecer aconteceria. Não havia mais nada a fazer naquele momento. O que ele poderia fazer? Sair em busca deles? Perambular pela região sem nunca encontrá-los? Não. Seria assumir um papel de bobo reservado a ele.
E as pessoas continuavam a pará-lo e a oferecê-lo comidas típicas. Crianças riam em sua direção com aquela curiosidade de quando se indaga: de onde ele vem? O que estará fazendo aqui no meio da escada, com tanta bagagem? Ele se maravilha com a movimentação. No dia anterior ele não tinha podido, mas agora, saca sua câmera fotográfica e começa a tirar fotos. Procura ângulos onde as cores fortes predominam. Aquele céu azul, sol forte contrastando mais ainda as nuances daquele lugar que parecia tão exótico. Lembrava sua idéia que tinha de Cuba.
Ele então olha para baixo, para onde a escada terminava. Um pedaço de chão e mais à frente uma vegetação alta. Ele fitava aquele muro verde de folhas e imaginava vê-los regressar. Molhados. Disfarce perfeito. Uma dúvida cruel lhe assolava. Ele, o nativo, voltaria na frente, ela, logo atrás, arrumando o cabelo, dizendo que tinha sido ótimo e que ele deveria ter ido também, pois eles o tinham esperado o tempo todo. E o nativo passaria por ele, daria uma tapa nas suas costas e diria: “E aí véio?”