sábado, 27 de setembro de 2008

O Estrangeiro - Parte 2

A noite da minha partida estava muito quente. Rio, 40 graus. Cidade maravilha da beleza do carnaval se despedia dos turistas na quarta-feira de cinzas. As fantasias eram adereços extras na bagagem dos “gringos” que deixavam a cidade, levando com eles, para suas casas, lembranças de um carnaval que passou.
Ao meu lado, no avião, um rapaz de olhos asiáticos estava em silêncio. Não me lembro como, mas começamos uma conversa de “reconhecimento” do local. Ele era brasileiro que estava indo para o Cairo. Lá era onde ele morava atualmente. Trabalhava para uma estatal e gostava do que fazia. Eu era um recém-decepcionado pela profissão que escolhera. Pensava em gastar o dinheiro obtido na tradução de um livro em uma realização de um sonho de criança. E eu estava gostando do que eu estava fazendo.

Logo a conversa se transformou em interrogatório: “Você está acompanhado? Você tem mais bagagem? Você está levando cadeado? Você conhece alguém lá? Você fez seguro?
Você sabe onde ficará? Você tem outra jaqueta?”
Para todas essas perguntas, a resposta era um não. E só então eu me dei conta de que não tinha pensado em nada disto antes.
Eu iria conhecer aqueles lugares com os quais tinha sonhado. Esta era uma certeza. Tinha minhas prioridades: entrar em um castelo, ver neve e visitar um campo de concentração nazista.

No trajeto Rio-Madri, agora eu tinha adquirido algo mais. Uma dor de barriga e uma ânsia de vômito causadas pelo interrogatório do japonês brasileiro que tinha me trazido à realidade e me feito ter vontade de seqüestrar o avião, exigir que o piloto retornasse ao Brasil, de preferência que me deixasse em casa. Não podia. Pedi à aeromoça que me arranjasse um remédio. Recusei o jantar da primeira viagem internacional da vida. Fechei os olhos para o que estava acontecendo. Era melhor não remoer os pensamentos agora. Procurei dormir.

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