domingo, 13 de novembro de 2016

Primeira vez.


No passo preguiçoso de um trem veio a novidade para a cidade grande.
No olhar aos ratos ao redor do mendigo que dormia, chegou o espanto.
Na batata frita de um sanduíche, arranjou um xodó diferente.
Na conversa despretensiosa, um tocar escorregado revelou a pele.
Na rapidez de um impulso, um gosto desconhecido.
No inverno quente da noite esfriou-se uma distância e o que era uma aposta
Se fez concretude.
A escuridão morreu e raiou o sono.
Tudo num balanço dos minutos de tempos que não se contam em relógios.
Um escorregar de momentos que se alargavam e diminuíam os instantes contados.
Uma caminhada para olhar a rua e desejar voltar para o já conhecido.
Uma fugida do dever em direção ao simples querer.
Estar junto, olhar junto, respirar junto, comer junto.
Ser junto, ser diferente.
Uma palavra não dita,
um desejo não realizado,
uma lata de suco de uva não bebida,
uma toalha estendida,
sinal do que foi, prova da vinda.
Uma história escrita em quatro mãos,
Misturadas de histórias mal terminadas
Ou mal começadas ou mal entendidas.
Fica a insistência do pensamento teimoso em querer ficar,
Em querer lembrar, em querer repetir.
O quase nunca se distraiu e surgiu o talvez.
O último da esperança deu lugar à primeira vez.

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