segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Que saudade de mim.

Há uma meia dúzia de anos, eu fui roubado de mim. Virei refém de dois rapazes que andaram comigo em busca de dinheiro e me ameaçavam, a todo momento, me tirar de mim. Diziam que iria ser com um tiro só, o que me deixava um alívio imaginar que seria quase indolor o final daquelas horas.


Tentei, neste tempo todo, e de várias formas, dar a volta por cima. Em parte, acho que consegui. Mas o que ainda sinto é um sentimento de ser refém das coisas e às vezes, das pessoas, que me causa um afastamento dessas mesmas coisas e pessoas.


Como resultado disso, eu mudei muito e em vários sentidos, para melhor. Mas percebo que me perdi também um pouco. Aquele rapaz sofreu um réveillon incomum que causou mudanças profundas neste renascer. Foi um parto a fórceps.


E hoje, sem depressão, apenas uma constatação.


Ganhei vida nova, mas o nascimento deixou cicatrizes.


Onde estou?

Por onde anda minha risada,

minha alegria?

Onde está minha casa,

minha comida?

Onde deixei meus chinelos,

meu descanso?

Onde está meu corpo,

meu canto?

Onde deixei minha inocência,

meu descanso?

Por onde anda minha cama,

minha companhia?

Onde está minha cachorra,

minha dama?

Onde deixei minha esperança toda,

minha alforria?

Por onde anda meu olhar,

quem ele procura?

Onde está minha amnésia,

minha caricatura?

Onde deixei minha vida?

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