sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Exercícios de sobrevivência.

 
Ele andava pelos corredores do shopping. A postura era de alguém com algum sofrimento psíquico, falava sozinho. De repente, ele esbravejou para duas pessoas que conversavam ao celular e que andavam à sua frente, a uma boa distância para não escutarem o que ele disse: "mas ô desgraça, não largam esse celular para nada!"

Foi um choque para mim. Menos pela ação do senhor do que pela identificação que tive com ele. Pensei que se eu não me cuidasse eu terminaria minha vida assim.

As pessoas são o meu inferno, já dizia meu amigo Sartre. Me solidarizo com ele. Há coisas tão banais e corriqueiras que me irritam profundamente: numa loja, ser mal atendido, não ser atendido, não ter um estoque apropriado para os produtos, mandar um outro chamar o gerente, ao invés dele fazer isso, atrasando todo o processo, consequentemente. Nos consultórios, atrasos dos ultra-deuses, também conhecidos vulgarmente por médicos. Pessoas que não dão bom dia, nem retornam o seu obrigado. Nem vou mencionar quando preciso de algum serviço público, como de um Detran. No trânsito, pedestres que esperam cruzar a rua já na rua, carros que não dão seta, não esperam o sinal ficar verde e já avançam, carros lentos na pista da esquerda, e por aí vai. No geral, pessoas que fingem que não me vêem, que me consideram como uma coisa, que olham para mim com aquele olhar blasé de quem não tem nada a ver comigo, que me tratam como um amigo que não sou – "ô véio, a gente não tem mais esse produto, foi maus!"

Percebi que tinha que fazer algo por mim mesmo, afinal o mundo não vai mudar para me agradar. Também não pretendo terminar meus dias gritando pelos centros de compras. Estou tentando fazer exercícios. Começou para dirigir: antes de entrar no carro, reviso comigo tudo que pode acontecer: além dos problemas descritos acima, fechadas, ultrapassagens, motoqueiros… Com isso repito para mim que tudo vai acontecer no momento em que eu sair da garagem. Quando acontece, digo para mim mesmo “Viu? Não disse que ia ocorrer?”. E não me estresso. Ridículo? Pode ser, mas tem me trazido um pouco de sossego.

O que não tenho conseguido é achar tudo isso normal. Acho triste ter que lidar com essas situações e me recuso a me acostumar com essa realidade aceitando que isso faça parte do novo cenário da minha cidade. Continuo indignado, mas mais manso.
No futuro? Fico aqui imaginando o tamanho do repertório de exercícios que vou ter que praticar.

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