Eles
entram na sala com um olhar curioso e apreensivo, internamente perguntando: quem
é esse homem a minha frente? O que será que ele é capaz de fazer? Será que
ele conseguirá me ajudar? Arrumar os meus problemas?
Eu
estou falando de mim no primeiro dia de encontro com qualquer aluno. Há sempre
essas dúvidas e expectativas. Não há como fugir delas. E então eu passo um
tempo tentando trabalhar da melhor forma que eu consigo, tento novas coisas,
novas estratégias e… estou sempre em dúvida se está funcionando. Muitas vezes
meu trabalho é bem parecido com o de um cantor de churrascaria que está
cantando seu repertório preferido, mas as pessoas mal escutam o que ele diz.
Como diriam Os Mutantes: “mas as pessoas na sala de jantar estão ocupadas em
nascer e morrer”.
Na
verdade eu sempre chego à conclusão – e isso geralmente acontece quando vejo
algum sucesso- de que o mérito é sempre do outro, não importando o que eu faça.
Não interprete isso como falsa modéstia ou como uma necessidade de
autocomiseração. Mas quais são os limites entre aquilo que eu fiz e o que a
pessoa fez por si própria? Como posso medir a interferência que eu tive na
escolha ou decisão de alguém? Depois que eu me retiro de cena afinal, o que de
mim resta?
O
que resta para mim é a única possibilidade de assistir ao espetáculo da vida de
camarote. Eu vejo meu amigo entrando numa furada e sei que se eu falar algo,
ele não entenderá. Eu vejo um membro da família vivendo uma vida que não é a
mais plena e eu estou com meus braços atados, porque é o que ele escolheu. Eu
vejo uma pessoa próxima sem forças de tomar uma atitude que eu julgo que
ajudaria a amenizar alguns dos seus problemas ou, pelo menos, tirar o véu que
recobre a visão do que está claro, mas ela se recusa a ver, ou tem medo de não
dar conta de lidar com o que verá.
Eu
chego, muitas vezes, à conclusão de que eu posso muito pouco. Não consigo
corresponder às expectativas de que eu tenha capacidade de consertar uma
situação, ou arrumar a bagunça que me são apresentadas. Penso em desistir.
Penso em me distanciar e começo a ver que o que ofereço é muito pouco. Mas então
tento enxergar minhas limitações, e como num exercício de humildade, eu reflito
um pouco mais. Nada é melhor do que reconhecer a pequenez que realmente somos.
Então
eu penso que o máximo que, de fato, posso fazer é ficar do lado, fazer um pouco
de companhia durante a caminhada, escutar o que a pessoa tem a dizer.
Diante
das enormes demandas das pessoas hoje em dia, não importando se elas advém da
relação de professor e aluno, médico e paciente, analista e analisando, pai e filho, amigo e
amigo, a impressão que fica é a de que basta eu agir como se eu pudesse ajudar.
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